Publicado em: 15 de janeiro de 2021 | Categoria: PAE

2021: um novo ciclo de possibilidades

A cada início de ano somos instigados a pensar nesta transição: uma etapa termina, outra começa. Ao mesmo tempo que existe a renovação de possibilidades, também é uma oportunidade para fazer um balanço do que foi vivido e isto servir como balizador para as novas oportunidades que virão nos próximos 365 dias. A proposta é refletir sobre o quanto nossa vida é constituída por ciclos que se sucedem e nos lembram que tudo tem um início, um meio e um fim. Ao mesmo tempo que indicam que sempre podemos recomeçar, renovar, reescrever nossa história.

Há algum tempo iniciamos nosso ciclo de vida neste mundo e em algum momento vamos finalizá-lo. Estas são realidades que ninguém pode mudar, porém o período entre o início e o final desta jornada nos proporciona várias possibilidades. Um novo ano pode ser uma ótima oportunidade para que no momento presente possam ser integradas as vivências do passado e as possibilidades futuras.

A natureza, a partir das estações do ano, representa muito bem o contínuo movimento produzido pela vida em ciclos. Essa passagem constante indica que tudo tem seu tempo para acontecer, o que parece o fim em algum momento, se renova, se transforma e é ressignificado em outro momento. A semente é um potencial para se tornar uma árvore e o será se houver as condições mínimas. Ela terá um tempo para germinar, nascer, crescer, completar o ciclo e perecer, como forças de um movimento que é interno, mas também influenciado pelo meio externo, como por exemplo, as mudanças climáticas que caracterizam as estações do ano.

Assim como uma árvore que é impactada pelas estações e vive seu ciclo, também somos influenciados pelos eventos, ora vivemos um outono de perda e desprendimento, ora um inverno de recolhimento e reflexão, em outro momento uma primavera de novas possibilidades e renovação, ou um verão de luz e vivacidade. Desta forma nos transformamos interna e externamente. A mudança é necessária, ela não é uma opção, pois, para lidar com o calor de um verão, as folhas precisam estar viçosas, ter farto acesso a água, para enfrentar o inverno é preciso economizar energia, as folhas devem ser mais ralas ou inexistentes e assim exigir menos da planta.

 Conosco não é diferente, no ano que finda podemos ter vivido nosso outono de perdas, que tanto nos impactaram, causaram dor e tristeza, nosso inverno de solidão e recolhimento. Vivência de experiências difíceis, mas que também podem trazer a oportunidade de proporcionar reflexão sobre o sentido destas perdas e promover a conexão com as emoções por elas mobilizadas. Também podemos pensar que o ano que se inicia, seja nossa primavera de transformação, quando nos permitimos florescer e dar novos significados ao que foi vivido. Gradualmente estas experiências podem se constituir em novas maneiras para enfrentar estes eventos e nos fortalecer. E por fim chegar ao nosso verão, com sua energia, luz, com condições de olhar para o que foi vivido nas estações anteriores e identificar que estas experiências nos prepararam para que neste momento de nosso ciclo, a vida possa ser usufruída de outra maneira. 

As vivências, tanto as boas, quanto as ruins, ajudam a nos constituir como pessoas, dão nosso senso de pertencimento e de identidade, permitem nos reconhecermos como indivíduos com histórias de vida, recheadas de memórias, de vínculos de afeto, relacionamentos, frustrações, sendo uma história que se encontra em constante processo de construção e escrita. Neste sentido 2021 se oferece como esta oportunidade de uma sucessão de ciclos a serem usufruídos no sentido de crescimento e aprendizado. 

Os bons momentos nos alegram, fortalecem nossos vínculos, produzem memórias afetivas, nos motivam, entre outros aspectos, os momentos difíceis, nos desestabilizam, produzem sofrimento e angústia, nos assustam e geram dor emocional, porém, quando compreendemos que destas situações podemos aprender a nos conhecer, nos transformar, descobrir e desenvolver novas formas de enfrentar estes eventos difíceis, nos fortalecemos, ressignificamos ausências e construímos um outro tipo de relação com quem ou o que perdemos. 

E desta forma os ciclos se sucedem ao longo de nossa passagem por aqui. Tomar para si a responsabilidade de viver o mais plenamente possível, sejam as alegrias, sejam as dores, vai permitir que o que foi vivido encontre seu espaço na história de cada um. Que 2021 seja um ciclo a ser lembrado e celebrado nos anos que se seguirem!

ÂNGELA PRATINI SEGER – Psicóloga – CRP 07/03834

Membro do CORA-CEFI – Núcleo de Estudos e Intervenção no Luto do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo.